quinta-feira, 1 de novembro de 2007

des-abrochar


lá de longe estava a nuvem. negra. como crianças chorando caladas.
e de tão longe parecia perto. perto demais para avisá-la. perto demais para distanciá-la.


e fez esperar.
e esperando se viu no meio daquela negra criança.
e o mundo ali parecia findado.
e parecia não ter fim.


e de lágrimas presas desabrochou.
e se tornou rubra em meio à negritude.
de pétalas quis desnudar-se. de toda aquela negra luz quis a fuga.


mas já não era possível desvencilhar-se.
só se existia rubra em meio aquela negra nuvem. de longe perdia a cor. tornava-se apenas a falta de estado. a falta de ser.


e o sol não podia iluminar.
queimava.


e fez-se parte. da negra nuvem. que de longe tornou-se perto.
e que de lágrimas tornou-se flor.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

...alado...

vazio imenso... quase sem fundo. não existe chão. não existem paredes nem apoio.
a alma. perdida em algum lugar.
o que fazia pulsar.. desligou. perdeu a bateria.
falta ar. sobra peso.
sobra tanta coisa. que não devia sobrar.

a vontade é de voar. pra longe. pro alto.
criar asas.
como as daquela canção...

domingo, 5 de agosto de 2007

prisão concedida


desejei voar alto. bem longe. olhei para os lados e não tinha asas.
quem as roubou?!


liberdade passageira. passando do lado de lá da minha rua. e a calçada é estreita. não me permite andar do lado dela.


liberdade relativa. tudo e nada ao mesmo tempo. paradoxo do ser ou estar livre. do querer ou não.
o desejo de sair. a incipiente vontade de correr. para longe. para onde nada alcançaria.
a ansiedade por ficar. por estar por perto. por querer estar por perto.


liberdade embalsamada. paralisada pelo tempo. descoberta pelo vento. e levada para longe. bem longe.

e quem queria ir para longe ficou. do lado errado da rua. da calçada estreita. aprisionado em desejos e no tempo.

e a liberdade. o vento levou. para longe do tempo. para longe de quem queria asas.

sábado, 28 de abril de 2007

Cronômetro Regressivo


Cheiro, toque, gosto.
Lembranças revividas em estado paralelo.
Realidade abstrata de sentidos. Minutos sentindo.
Incertezas de ontem balbuciadas pela convicção instantânea.
Sentimentos retocados pelos olhos que procuram se perder.
Consequências não medidas. Análise de dimensões. Régua da existência. Regras.

Paz de orvalho. Pele gelada... quentes poros.
Tranquilidade achada entre perdidos;
Aprendendo apreendidos sentimentos rebuscados, não guardados.

O fim que não se há. O fim que não se sabe. Incerto e belo.
Retas paralelas que se cruzam... em alguma finita dimensão.

E sobra... "Sobra tanta falta"...

Sei lá... eu sei!

terça-feira, 17 de abril de 2007

Mutação


A luz que de longe batia na reflexão de um sorriso ocular.

Que de perto pertubava as mãos líquidas e o frio surdo abdominal.

Que exalava o intenso e inevitável. Que penetrava nos poros e na alma antes viva.

A criança que despertava do profundo sono e gargalhava do mundo.

O tempo. mais do que números representativos. desatador.

O vento. mais do que um sopro ingênuo. carregador de lembranças.

Lembranças. Menos ternas. Mais carregadas.

A luz que de perto torna escuridão de uma gota ocular.

Mãos trêmulas que ressecam pela fria dor superior.

Aroma. Que na lembrança torna agulha fina e profunda.

Criança. que cresceu. Perdeu a ingenuidade e a graça do mundo.

O tempo. mais do que números representativos. Marcador de lembranças que persistem em algum canto.

...no canto que os olhos chegam e não queriam encontrar...

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Mediocridade me assusta.
Tão presente e tão estúpida.
Mentiras de uma verdade que nem se cogita ter.
Falsária expressão de olhos opacos.
A pequenez provoca ânsia. A limitação impede o sonho.
O compulsivo querer do nada. do querer sempre e a cada momento. Um novo querer vazio. O pseudo desejo da falta de si.
Um encontro. abastado e abstrato. Absurdo vazio deslocado.
Auto-pseudo-enganação.
Duvidosa crença do mundo.
Ah! A verdade... ensurdecedor eco do fundo de um labirinto vazio.

terça-feira, 10 de abril de 2007

queimaram meu quebra-cabeça

Mil escombros caidos ao chão. Partes que se desencaixam. Pedaço. Subjulgado a pedaço somente.
Labaredas altas. Ardor em cada ponto. costurados em linha de seda sobre as lacunas outrora rasgadas.
Dilacerados de sonhos. objetivos questionados por pensamentos nocivos. meramente insano.
Descoberta insanidade. sob a pseudo-normalidade. Se confundem. Se difundem.
Mil pedaços confundidos.
Mil pedaços difusos.
Quebra-cabeça acéfalo. A quebra não perturba o que não existe. incomoda. Inexistência nula e falha.
Vazio intrínseco. Podridão esfoliada pela pele. Imagem ressecada.
O que cai ao chão.
O que vira escombro.
Mil escombros mortos caidos ao chão.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

aspirador de pó

um reflexo na frente. um estranho rosto que encara outro.
angustiada reflexão. uma casca que se destrói em pó.
mas nada é inalado. nada é capaz de provocar êxtase. nem o pó.

tentativa de toque. apenas uma superfície fria. gelada.
sem sensações. um vazio cheio de imagem. cheio de marcas.
não as de expressões. porque não há mais expressão.
apenas o vazio. apenas o pó.

não reconhece a si mesmo. quem foi um dia. quem é. ou seria.
quem fingia existir atrás da casca. a que virou pó.
o pó que nem ao menos é inalado.

o pó que é apenas jogado debaixo do tempo.
o que fica. e nem o vento quer levar consigo.
o que sobra quando nada mais tem. nada mais se finge. nem se constrói.
a verdade relativa que encara o fim.
o fim que vira pó.
tão frio. tão seco. nem a água que sai dos oculares é capaz de existir.
só o pó.

terça-feira, 20 de março de 2007

pote de ouro


tudo branco. claro e límpido. uma luz intensa que queima os olhos. um som distante que faz caminhar.
passo após passo. único barulho das solas. e silêncio ensurdecedor. mais um passo. eco.
em busca de nada. ou de tudo. do vazio que quer ser preenchido. do acúmulo que precisa ser jogado fora. busca.
passo após passo. cada vez mais rápido. cada vez mais intenso. e só é possivel ver o irritante branco. o sufocante branco.
por dentro ou por fora. abrigo. sufocante abrigo.
passo após passo. agora corro. do que ou para que. de mim ou para mim. e o branco não tem fim. só uma luz. lá no fundo. perdida com seus medos. suas paixões e sentidos. suas mentiras e verdades.
a luz. a luz que sai do branco e que leva pra fora. o branco que se decompõe em cores. lá fora. sob a luz.

no fim do arco-íris tem um pote de ouro. eu vi um arco-íris.

domingo, 4 de março de 2007

Ontem eu vi um eclipse


Um do outro se aproxima. lentamente reconhecendo. lentamente sendo reconhecido.
Aos poucos um vai entrando no outro. cada parte de uma vez. cada centímetro por si. aos poucos e totalmente.
E lá permanece. adimiração. olhos voltados para um único lugar. tudo em uma coisa só. suspiro. dois se faz um. cumplicidade. luz de um refletida no outro. confiança.
Mas o tempo é volátil. um do outro vai distanciando. sem adeus ou até logo. o que era um passa a ser dois. diferente. cada um de um lado. opostos. sem se reconhecer. sem ser reconhecido. de costas. sem confiança. só. não apenas, mas sozinho.
A distância aumenta. o espetáculo tem fim. o desejo de não existir outro sol. ou outra lua.
Mas o universo é infinito. outras galáxias. outros sóis e outras luas.
E a cumplicidade acaba. e cada um vai brilhar longe. pra outros astros.
A exclamação vira ponto final. A noite apenas um sonho.
E o brilho apenas uma lembrança que ainda reflete. mesmo sem luz.

"os opostos se distraem... os dispostos se atraem"

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Tem alguma tomada aí?

Tapa.
Ainda escutando briga.
Quem briga?
Alguém aqui dentro com suas próprias loucuras. Suas próprias ilusões e realidades.
Um eu passado querendo voltar. Um eu presente persistindo em ficar.
Duas em uma. Polaridades. Mais e menos. Positivo e Negativo.
Choque.
Sorriso e lágrima. Quente e frio. Verdade e mentira.
Esconderijo.
Tudo por dentro. Nada mais externalizado. Para quem? Para que?
O que é pra ser sentido só. No escuro. No fundo.
Enfrentar.
Segredo ou medo? Sonho ou pesadêlo? Posse ou sentimento?
Tudo misturado. Todos em um. Nenhum. Um em todos.
Loucura. Amor. Dor. Alívio.
E tudo de novo...

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Ampulheta

Lá do fundo. alguma coisa puxando. pra baixo. ou pra cima. tanto faz.
Qual a diferença? Cima, embaixo, céu, chão, ilusão, realidade?
O mesmo mundo que me tem. O único mundo que sorri e chora.
Tem alguém aí em cima? Alguém me escuta aí em baixo?
...eco...
Eco das suas próprias ilusões. Dos seus próprios devaneios. De suas mesmas brincadeiras infantis. Dos seus únicos sonhos. Dos seus presentes pesadêlos.
Presentes ou passados? Tudo volta como foi. Tudo vai como veio.
E o cheio esvazia. E o vazio busca inútil mais uma preenchida ilusão.
Tudo é imitável. Tudo é "fingível".
Menos a tristeza.
Ah... só ela sabe onde fica o começo e o fim. O em cima e o embaixo. Junto ou separado.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Céu Vermelho

Água. Copo. Tempestade. Desce pelo ralo. Vermelho. Não é sangue. Apenas o vinho que agora está esquentando sobre a mesa.
Da água pro vinho... milagre? Não... virou vinagre. A rima desproposital.
A sintonia que se separou em duas cores. Do transparente ao fosco. Do reflexo ao vidro quebrado pelo chão.
Do sentimento que ficou sem sentido. Do sentido que não sente. Espalha. Grita. Berra. Gargalha. Chora. Esperneia.
...e finalmente descansa em paz...

Suicídio? Nunca... apenas mais um recomeço.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Adaptabilidade


Eu não sei mudar!

Se tá sol... me queimo! Se tá chuva... me molho!
Se tem sorriso... dou gargalhada! Se tem lágima... choro que nem criança!
Se tem amigo... tem festa! Se tem "solidão"... me faço companhia!
Se tem música... danço! Se não tem... toco e canto!
Se tá colorido... tá mágico! Se tá preto e branco... a gente toma banho de tinta!
Se tem alguém... é entrar de cabeça! Se não tem... conhecer faz parte!
Se tá na minha língua... eu falo! Se tá em outra dimensão... eu busco!
Se tem silêncio... penso! Se tem "falação"... observo!
Se tem corpo... faço! Se tem alma.. respiro!

Se tem machucado... a gente cura! Se tem felicidade... tem espírito!

Porque os sonhos existem para que um dia o despertar seja com um sorriso!

Adaptabilidade... pratique!

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Quantas horas são?


Pulo da cama. Sonho. Pesadêlo. Horas pensando. Ação impensada. Ou pensada demais.
Olho no relógio. Que horas acaba o sonho? Alguém me diz que o sonho nunca acaba. E as palavras vão ficando como música de fundo. Cada vez mais baixas. Cada vez mais silenciosas... Até que um dia o chão parece mais próximo. A cada segundo chegando mais perto. E a companhia passa a ser ele. Ali... onde sempre esteve, debaixo dos pés... Mesmo quando sonhando imaginava estar a cima de qualquer estrela que estivesse no céu.
E a estrela... parando de brilhar... como se já estivesse morta há tempos e dela só restasse um foco de luminosidade.
...E a luminosidade se tornou pouco demais...