terça-feira, 30 de setembro de 2008

...seven hours...

As duas rodinhas triplas giram conturbadas. Apressadas. Assim como os dedos, incontroláveis.
O saguão vazio e o cheiro de limpeza anunciam o vasto vazio.
O olhar piedoso que não abranda as palavras. E lá se foi.
Os incontroláveis fios de água que escorrem pelos glóbulos sem preocupação com platéia. E encharcam o cachecol que não aguentará o frio da alvorada.
O toque vazio e distante. A voz longe. A vontade de correr e chegar.
O silêncio novamente.
As cadeiras vermelhas seguidas, como exércitos à espera de mais sete horas.
Um cearense que dorme no colo de sua carinhosa esposa.
Dois homens do mundo que descansam sobre três cadeiras.
Os repentistas tocadores que desfalecem agarrados ao bumbo e a zabumba. Coloridos.
O senhor de óculos que lê Saramago.
A senhora com o escudo de frasqueira roxa.
O jovem com seus fones amarelos. E o outro com seu capús vermelho.
Os ponteiros gigantes que não se movem.
Os pedidos de remoção para a limpeza. O vai e vem da água pelo chão. Único movimento das duas.
A leitura que cansa. Os olhos que teimam em cerrar.
A força em mantê-los.
As músicas decoradas que soam apenas como barulhos as três.
O casal com paetês e gravata que entra e sai sem explicação.
O primeiro cheiro de café de onde não se sabe.
A luz que se ascende.
No fim do túnel com cheiro de pão de queijo.
Às quatro acordados. O movimento recomeça.
O grupo de camisas idênticas e faixas.
O vai e vem. Um rosto conhecido.
Os passos que levam ao despertar. Já é quase dia.
Um café. Que deixa áspera a superfície sedenta e queimada.
Um passeio para as duas rodas que cansaram do local.
Água no rosto. Fila.
O jovem másculo com sapatos de purpurina que se coloca entre a vontade e o destino.
E enfim. A espera certa.
Agora apenas mais uma e meia.
Mais uma.
Meia.
Água.
Escadas.
Quinze minutos.
Inclinação. Sono.
Mais cinco horas. Até o destino.

sábado, 20 de setembro de 2008

partitura*


sem mais refrões que contradizem a frase que sai dos olhos [ou da boca].
sem mais letras inconvenientes que soam na alma.
sem mais melodias simples de mentes complexas.
sem mais um nome que nada diz. [ou diz tudo].
sem mais uma respiração pelas cordas arranhadas.

sem mais música. aquela que nunca consegui compor.
e que faz falta no encarte.

não sou compositora.
e talvez nunca chegue ao final de uma simples frase.
faltou música.
...em uma partirura vazia.